domingo

Encerra-se assim o primeiro ano

Eu tinha feito um post extremamente pessimista pro aniversário do blog, mas decidi que era muito triste. Vamos parar de reclamar, certo? Decidi fazer um post curto, como o do começo.

------------------------------------

Well you can play my game

If you just tell me your name

Well you can play my game

But I'll put you to shame

The Donnas

Era assim sempre que chovia. O pequeno Chico vivia esse desespero nos dias de chuva porque sempre que chegava em casa recebia uma festa surpresa de aniversário.

Eu tenho uma teoria sobre o aniversário. Bom, não é uma teoria e sim uma sensação. Sabe aquela cena dos carros correndo em direção ao precipício de “Juventude Transviada”? A sensação que eu tenho é de que James Dean aperta um pouco mais fundo no acelerador a cada aniversário, e eu sei que ele não vai conseguir saltar se continuar acelerando desse jeito.

Imaginem vocês, então, a sensação do pequeno Chico toda vez que chovia! Olhava triste para seu reflexo nas poças no caminho de volta, já esperava o pior – sim, porque de surpresa, essas festas já não tinham nada. Como pode ser “de surpresa” a rotina? Perfeitamente plausível o desespero de nosso herói, constrangido por ter que chegar em casa, sorrir com todos os dentes e sentar à mesa rodeado daquelas pessoas. Quem afinal eram elas?

O vento soprou forte naquela hora e levou o guarda-chuva. Pingos se espatifavam contra o calçamento. Os carros nadavam impassíveis nas ruas encharcadas. Um brilho surgiu subitamente nos olhos do pequeno Chico. A resposta finalmente viera a tona, tão simples, tão amável. Não voltar. Caminhar de volta pra casa era acelerar em direção ao precipício. Sem guarda-chuva, sem olhar pra trás, o pequeno Chico deixou que seus pés o guiassem.

E pegou um resfriado.

sábado

O Pedófilo

Eu, aqui, sentado nesse banquinho da pracinha, fumando. As crianças brincando nos balanços, se ofendendo e dizendo palavrão. Elas têm a coragem de quem ainda não deu de cara com a vida, melhor, de quem acabou de dar de cara com a vida pela primeira vez. Um garotinho corre, olha pra mim e corre ainda mais, parece exibir sua velocidade. Devo parecer assustadoramente velho pra eles.

“Tio, como é teu nome?”

Marina pergunta com a inocência dos seus 5 anos. É uma garota ousada, não segue os conselhos de sua mãe. Fred sorri, acha uma graça.

“Fred, meu bem. Como é o seu?”

“Tu não faz nada, tio?”

“Fico sentado aqui, olhando pra vocês.”

“Quer namorar comigo, tio?”

A pergunta soa casual. Não parece haver grande significado pra Marina, ela simplesmente não quer ficar pra trás de suas amiguinhas, pensa em chocá-las com um namorado muito mais velho que o delas, ainda por cima desconhecido. Fred finge considerar a proposta.

“Quantos anos tu tem?”

Faz cinco com a mão.

“Bom, se a gente vai namorar, tu precisa saber umas coisas. Eu acho que tu não deve fumar antes dos 18, ou 21. Dizem por aí que isso afeta o crescimento, não fica bem tu virar uma baixinha por causa do teu namorado. E a gente devia levar isso a sério, eu quero dizer, não ficar de sacanagem. Tu é uma garota bonitinha, mas não pode ficar namorando todo mundo, namorado é só um. Essa é meio que uma regra de adultos, sabe? Ah, e eu preciso saber teu nome, afinal eu vou falar contigo pelo telefone, vou precisar dizer com quem eu quero falar pra te chamarem. Ou pra endereçar as cartas, de repente falar teu nome baixinho quando eu estiver com saudade. Aliás, tu sabe jogar canastra?”

Marina já não prestava muita atenção, então ficou olhando pra ele com aquela cara de vazio. Fred não percebeu porque conjeturava mais alguns pré-requisitos. A mãe de Marina percebeu, lá de longe, a mancada e chamou a garota meio que já brigando. Marina correu de volta pra mãe pensando que era melhor começar com alguém da sua idade.