“Como se pode conhecer um armário?”
“É verdade, não é simples. Você deve se aproximar com cuidado, calada e com calma, pois armários são muito arredios e se fecham com facilidade. Então diga seu nome, mas ainda não o toque, diga seu nome em voz baixa e espere pela pergunta, que ela logo vem, eles não se agüentam, logo vem. Esse momento é maravilhoso e singelo, pois do meio da massa de madeira pode-se escutar claramente: “ãhn?” Ele finalmente se abriu, e agora você vai fazer perguntas e ele vai responder, com sinceridade, muita, porque não há nada mais sincero que um armário. Exceto, talvez, por alguns bidês.”
“Você é completamente maluco.” – e saí dali.
Não olhei pra trás. Algum tempo depois essas palavras voltaram a minha cabeça como um trem descontrolado e cravaram por dentro nos meus ouvidos. Talvez houvesse algo de cósmico-enérgico-plurialgo nos armários que confirmasse essa teoria, talvez eles até mesmo falassem.
Talvez olhassem.
Paguei meu café e voltei pra casa encucada.
E passei a me trocar de luz apagada.
----------------------------------------------Exercício de Narrativa Cinematográfica.